Comecei a lecionar no CCEM - Centro Cenecista Educacional de Muriaé em 1998, nas últimas séries do Ensino Fundamental. O Aristides, nesta época, já estava no Ensino Médio, mas me lembro bem do seu jeito sorridente, sempre rodeado de colegas.
Agora, quando nosso grupo foi sorteado para trabalhar com "paralisia cerebral com cognição normal", a primeira pessoa que me veio à mente foi exatamente o Aristides, e nem mesmo sabia se o problema dele era esse mesmo, o que depois ele mesmo me confirmou...
Confesso que, no início, fiquei um pouco constrangido (por puro desconhecimento) em procurá-lo, mas quando fui falar com seus ex-professores na escola...foi uma unanimidade: "... pode procurá-lo que ele vai te ajudar com a maior alegria!”
E não deu outra coisa...a mesma simpatia que eu observava de longe... agora pude comprovar com a receptividade dele e de sua família.
Aristides me falou de suas dificuldades, no início, quando não existia computador, sua família fez uma adaptação em uma máquina elétrica, colocando sobre ela uma placa de acrílico, em que ele podia apoiar as mãos e, com os furos em cima das teclas, para não bater em duas de uma vez, já que ele não tinha coordenação motora... "Depois o padre Marino Van de Ven conseguiu para mim um computador, com verba que veio da Holanda, através de uma organização que cuida de deficientes". O Sr. Vianna disse que o padre Marino mandou fotos do Aristides, do triciclo em que ele andava...preparou toda a documentação...mandou tudo para a Holanda e...conseguiu..
Aristides também me confessou que sempre foi muito levado, coisa que eu já sabia, pois tinha conversado com a Profª. Dadace, sua professora de Língua Portuguesa e Produção de textos e ela disse que zangava mesmo com ele.(..."eu não era fácil não!, mas acrescentou..."mas eu era muito estudioso"... "eu gostava muito de estudar")
Outra coisa que Aristides lembra com muito carinho é de seus colegas... disse que os colegas o ajudaram muito...
Aristides passou em um concurso público na Empresa de Águas e Saneamento de Muriaé - DEMSUR, e trabalha com informática. Perguntei a ele se usava algum programa específico do tipo Motrix, mas ele disse que não, que usa programa normal, pois a coordenação motora melhorou muito.
Aristides destacou também o pioneirismo do CCEM com educação inclusiva em Muriaé, dizendo que seus pais foram em todas as escolas e todas diziam que não estavam preparadas.
Nosso entrevistado realçou muito o apoio de sua família..." Graças a Deus eu tenho uma família que me apóia muito...família é tudo na vida da gente". Se não fosse meu pai e minha mãe para me empurrar... dizendo sempre: você consegue...você pode! "
Outra coisa que fez questão de frisar foi que tanto os professores do CCEM como os professores da Faculdade (É formado em Biologia) o tratavam como uma pessoa normal.
Durante a entrevista, o Vianna, pai do Aristides, nos falou das dificuldades no início, quando souberam do problema: " nós o levamos para a APAE, saíamos daqui de Muriaé para fazer tratamento com ele lá em Cataguases (cidade a 70 km de Muriaé), na época Muriaé não tinha APAE"... A Lúcia lutou muito . Muitas vezes ela pegava ônibus aqui para levá-lo a Cataguases.
Aristides me falou da dificuldade que tinha com Matemática, não com o raciocínio, mas para colocar as fórmulas no computador... elogiou muito sua ex-professora de Matemática do CCEM ( Hoje, Secretária Municipal de Educação - Muriaé-MG), Maria Amélia Xaia, da qual se lembra com muito carinho. Outras pessoas de quem Aristides falou também com muita afeição foi da Leninha e da Dalvinha, duas funcionárias do CCEM... " elas me levavam até no banheiro."
Propus a ele algumas questões sobre como foi o seu dia-a-dia na escola e uma avaliação sobre como esta escola influenciou em sua vida. Suas sugestões para melhorá-la e como ela deve proceder e dispor para atender um aluno com necessidades especiais e atendê-lo adequadamente. As respostas enviadas por e-mail por Aristides foram essas:
Qual a preparação prévia que um professor deve ter para iniciar o processo
educacional com um aluno com esta deficiência?
O professor deve ter um conhecimento prévio sobre a deficiência de seu aluno para que não fique constrangido ao dar aula para este aluno. O conhecimento prévio seria saber como fazer com que este aluno acompanhe suas aulas do mesmo ritmo que os alunos “normais” e que recursos poderiam ser usados para que este aluno se desenvolva no mesmo nível dos demais alunos. Finalizando ele deve ter um curso de educação inclusiva.
Que condições você acha importante, em termos de preparação, que o aluno com esta deficiência deveria ter para sua integração na sala de aula? Condições necessárias para sua adaptação seriam equipamentos adequados e professores capacitados.
Ainda falando do aluno, o que seria necessário para sua adaptação à sala de
aula?
Para que o aluno consiga se adaptar ao processo educacional é necessário alguns instrumentos como computadores para aluno com deficiência motora, livros em braile para aluno com deficiência visual e outros que irão ajudá-lo no processo educacional.
Quais as adaptações físicas que você acha essencial que a escola possua para atender este aluno?
Para um aluno com deficiência consiga viver bem no ambiente escolar é necessário que a escola faça algumas adaptações físicas como banheiros adaptados, rampas para acesso às salas, etc.
Quais os artefatos tecnológicos que você considera necessário que a escola possua para atender este aluno?
A escola deve possuir alguns artefatos tecnológicos como computadores, programas
que ajudariam este aluno a desenvolver bem suas atividades escolares.
Você teria alguma sugestão para amenizar ou eliminar os entraves ao desenvolvimento didático devido à deficiência?
Sim. Especialistas capacitados à disposição do professor para orientar nas dificuldades do deficiente.
O que você acha que os colegas, professores e demais atores envolvidos na escola
poriam fazer ou deveriam saber para melhorar o acolhimento deste aluno na escola?
A escola como um todo deveria estar sempre preparada para não discriminar e sim acolher as diferenças.
Qual a atividade que mais você gostava de fazer na escola?
A atividade que eu mais gostava de fazer na escola era trabalhos em grupo
E aquela que você menos gostava?
A atividade que eu menos gostava eram as avaliações longas.
Que tipo de atividades você acha que poderia desenvolver que pudesse melhorar a
integração deste aluno com os colegas?
Atividades em grupo.
O que você acha que deveria ser feito para que os exercícios e as avaliações tivessem um resultado mais eficiente quando aplicado a este aluno?
Que as avaliações deveriam ser adaptadas à deficiência do aluno
Como você acha que deve ser a interação da família com este aluno?
A família deve estar sempre incentivando o aluno para que ele possa seguir em
frente.
Quais as lembranças mais agradáveis que você tem do seu tempo de estudante?
As brincadeiras com os colegas, as excursões, os teatros, as paqueras.
Existe alguma ação ou atitude, no seu tempo de estudante, que tenha lhe magoado ou deixado triste e que, de alguma forma, poderia ter sido evitado?
Não. Na minha vida escolar não aconteceu nada que me magoou.
Qual a importância que você atribui a sua família em relação ao seu sucesso na vida escolar? Poderia dar exemplos?
Família é tudo na vida de qualquer ser humano, principalmente na vida de pessoas com deficiência, pois ela incentiva a conquistar novos caminhos.
Qual a importância que você atribui aos seus colegas ao seu sucesso na vida escolar? `poderia dar exemplos?
Meus colegas foram fundamentais na minha vida escolar. Foram eles que me acolheram e apoiaram seja nos momentos alegres ou difíceis.
Em sua opinião, quais foram os principais benefícios que a escola trouxe para sua vida particular?
Foi a escola que me deu toda orientação escolar necessária para a minha vida profissional e pessoal no que se refere à formação ética.